Impacto

População sente um aumento dos preços de hortifruti nas feiras

Agricultores colocam culpa na falta de chuvas, que já é uma realidade após período de fortes chuvas no fim do ano passado

Foto: Jô Folha - DP - População diz que os preços na feira aumentaram

Nesta terça-feira (6) foi dia de feira livre na rótula que junta as avenidas Bento Gonçalves, Ferreira Viana e Juscelino Kubitschek. O ponto, já é tradicional por receber os consumidores da região que optam por consumir frutas, verduras e legumes frescos, comprados direto dos produtores rurais nas banquinhas. Mesmo assim, as pessoas que foram à feira desta terça deram de frente com os preços mais altos dos alimentos.

Ceci Silva, de 80 anos, conta que mesmo que as frutas e legumes tenham ficado mais caros, não deixa de usar o transporte público para ir do Laranjal, onde reside, até a feira. A idosa diz compreender o aumento de valores nos produtos naturais, até porque ela mesma tem uma hortinha própria em casa e sofreu com a falta de chuvas. "Eu também estou plantando e estou vendo que está difícil de plantar. Está tudo seco. Para quem tem o privilégio de ter a irrigação, é ótimo. Mas, se não…" aponta dona Ceci.

A idosa conta que frequenta a feira toda a semana e não abdica do costume que tem há anos em troca de um mercado comum, apenas pela proximidade de casa ou pelos valores. O tamanho dos alimentos e seu sabor, além de serem livres de agrotóxicos, anulam qualquer tipo de dúvida que ela poderia ter sobre comprá-los diretamente com o agricultor. "Eu gosto de escolher. Às vezes, dizem: 'ah, por que tu não vai ali (mercado próximo)?'. E eu digo: 'porque eu quero escolher'. Faltou fruta, eu venho", conta rindo. No mais, prefere mais comprar na feira livre, porque ela fornece um contato maior com outras pessoas, sem contar que já promove um passeio ao ar livre, pontos importantes na opinião da senhora.

Já Eunice Silva, de 69 anos, foi à feira acompanhada da filha depois de muitos dias ausente, já que não tem frequentado semanalmente por conta das altas temperaturas. Na opinião dela, embora os preços trabalhados estejam mais altos, ainda considera que não esteja tão caro a ponto de impedir que ela compre os alimentos no local. "Eu compro aos pouquinhos. Sobre os preços, até agora está bom", comentou. O calor e a falta de chuvas influenciou na cesta da dona Eunice, já que não levou alguns alimentos que faltaram na feira. "Eu queria a couve-manteiga cortadinha e não achei, porque está amarela. A moça disse que não vale a pena trazer", citou.

O lado do produtor

O agricultor Valcir Rogério Drawanz, de 49 anos, admite que no verão o movimento na feira livre tende a cair, já que muitas pessoas estão tirando férias, além das dificuldades na lavoura quanto ao calor. "Agora fica uma época meio difícil de plantar e irrigar. O sol queima muito", afirma. Diz que tem ouvido reclamações acerca do preço dos itens, mas entende que as pessoas não conhecem todos os empecilhos que envolvem o desenvolvimento dos alimentos. "Estamos vendendo quase o mesmo valor, porque agora a gente gasta muito com irrigação, mão de obra. Aí tem que colocar tela. [...] Hoje os insumos estão muito caros, mais o maquinário", explica o produtor.

"A maioria da tua renda volta para a lavoura", desabafa Valcir, que tenta responder às críticas dos consumidores aos valores cobrados pelo hortifruti. Segundo ele, o plantio no verão tipicamente sofre pelas altas temperaturas e escassez de chuvas. Para ele, o que salva a produção é o sistema de irrigação pelo açude, que não evita maiores dificuldades pela estiagem que parece se estabelecer. Esse ano, inclusive, o agricultor escolheu não tirar férias da lavoura, como fez em outras temporadas, devido à situação atual. "Se eu parar de plantar hoje, quando eu voltar a trabalhar aqui vou levar mais 60 dias até eu ter a mercadoria, para vir ao comércio de novo".

Ceasa enxerga diferente

Para o presidente da Central Estadual de Abastecimento de Pelotas (Ceasa), José Benemann, na verdade, a estiagem ainda não preocupa tanto os produtores de hortifruti, já que a região de Pelotas está bem abastecida nas reservas de água. Além disso, o representante da Ceasa afirma que a pouca chuva traz mais qualidade às hortaliças, legumes e frutas. "Muita chuva prejudica as folhosas, tomate, pimentão, melão, melancia. As frutas perdem um grau de doçura. Claro, a pouca chuva é prejudicial para as grandes lavouras, de milho ou soja, mas para o hortifruti não é tão preocupante", disse o presidente do Ceasa. Em contrapartida, Benemann acredita que houve a perda do plantio de novas mudas, mas nada que venha sucumbir ao aumento de preços. Para ele, o que pode gerar crescimento nos preços é o aumento no consumo, visto que no calor as pessoas comem mais produtos como frutas, verduras e legumes, do que em outras épocas.

"Estiagem dá sinais", segundo economista

De acordo com o professor de Ciências Econômicas pela Furg, Eduardo Tillmann, existe uma justificativa plausível para o encarecimento dos alimentos embasada no consumo das pessoas, já que a renda geral subiu e, por conseguinte, o aumento natural de preços nas bancas. No entanto, Tillmann enxerga a estiagem dando muitos sinais no Rio Grande do Sul. "Isso é muito comum aqui, e já faz com que haja o aumento de preço também", considerou. Segundo o especialista, também há possibilidade que o produtor, em função das estiagens dos anos anteriores, aumente o preço, tanto no sentido de autodefesa contra a seca, como também opte por já enfrentar de antemão a previsão de poucas chuvas.

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